terça-feira, 7 de setembro de 2010

Por que usar lean na saúde?

Essa pergunta precisa ser respondida com muito cuidado. O termo “lean” (enxuto) foi associado ao sistema de produção da Toyota e aplicado em diversas indústrias (que não a automobilística) com muito sucesso. Na saúde sua aplicação se confunde com a idéia de mecanização e “desumanização” do atendimento, tornando a assistência mecanizada, impessoal e “fria”. Mas o que acontece é exatamente o contrário; a “mentalidade enxuta” tem seu foco claramente definido nas necessidades do cliente, de acordo com seus 5 princípios universalmente aceitos:
  • Especificar o valor do ponto de vista do cliente (paciente);
  • Identificar a cadeia de valor para diagnosticar e tratar o paciente removendo etapas desnecessárias;
  • Permitir que o fluxo do paciente seja suave e rápido através de cada etapa;
  • Equilibrar demanda e capacidade permitindo eliminar as filas dos processos;
  • Buscar a perfeição através da melhoria contínua das cadeias de valor.

A mentalidade enxuta busca, em última análise, eliminar o desperdício e criar valor para o cliente/paciente. E é isso o que vemos quando aplicamos seus princípios num serviço de saúde, aqueles já diretamente envolvidos nas nossas iniciativas já sabem disso.

Os principais argumentos contra o seu uso não se sustentam com uma análise um pouco mais rigorosa, vejamos exemplos:
  • “Não existem pacientes padronizados” – é verdade! Mas a maioria dos pacientes segue fluxos de atendimento “padronizados” que podem ser melhorados e executados através de um fluxo suave e contínuo, existem rotinas muito claras para tratamento de infarto do miocárdio, câncer de mama (e quase todos os outros), AVC, diabetes, hipertensão, etc.; sem contar as rotinas de admissão, pré-operatório, alta, e assim por diante. Olhar através desses processos e identificar o desperdício e a cadeia de valor são atitudes lean que “não padronizam pacientes”, padronizam processos.
  • “Mas padronizar inibe a inovação” – o contrário é que é verdade: se você não tem controle sobre seu processo, você não é capaz de inovar. Centros que participam de estudos clínicos sabem disso e o trabalho que é padronizar práticas para atender requisitos de qualidade do estudo quando não há padronização alguma na rotina do dia-a-dia.
  • “Mas nossa demanda é imprevisível” – NÃO, a demanda é altamente previsível, nós é que devemos entender seus picos e suas baixas e nivelar a carga de trabalho. Todo faturamento de hospital trabalha 5 vezes mais na última semana do mês, mas os pacientes recebem alta ao longo do mês indistintamente.
  • “Mas cada paciente é diferente” – de fato, mas apenas 6% dos procedimentos em um hospital representam mais de 50% da carga de trabalho. Organizando o fluxo desses 6% de procedimentos organiza 50% do tempo, liberando mais tempo para os outros 94% dos casos...

Capa do livro “On the Mend:
Revolucionando a Saúde para salvar vidas
e transformar o sistema”
.
Muitas instituições reconhecem na mentalidade enxuta uma forma de “revolucionar” o sistema de saúde, reduzindo o custo e ao mesmo tempo, aumentando a qualidade e a satisfação do cliente. Nessa revolução é necessário o comprometimento de todos: da alta liderança até o nível operacional; todos devem estar comprometidos em criar valor para o cliente reduzindo o desperdício do sistema.

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