segunda-feira, 23 de agosto de 2010

GENBA: GERENCIAR NO LOCAL DE TRABALHO


Genba” é uma palavra japonesa que significa o “lugar real”. Detetives japoneses chamam a cena do crime de “genba”, assim como repórteres da TV fazem referências como “falando ao vivo do genba”. Na indústria, “genba” é considerado como “chão de fábrica”, e se refere, geralmente, ao local onde o “valor” da manufatura é criado: carro é montado, motor é fundido, ou onde a “injeção é aplicada”; é onde a atividade fim é executada diretamente.
Na mentalidade enxuta, a idéia de genba se refere ao local onde os problemas são visíveis e as melhores idéias para melhoria dos processos irão emergir. Taiichi Ohno, um dos criadores do Sistema Toyota de Produção (TPS) usava o termo “Genba  Keiei”, que significava “administrar no chão da fábrica”, que era, nada mais do que o Gerente da Fábrica circular, sistematicamente, através de todas as células da produção. O “Genba Walk” é muito parecido com o conceito de MBWA (“management by wandering around”, popularizado por Tom Peters e Robert Waterman), em português, “Gerenciar andando pela Empresa”. O fundamento da idéia é trazer as lideranças da organização para as atividades de linha de frente, identificando problemas, oportunidades de melhorias e tratando de fatos reais, não números ou relatórios – que não são menos importantes, mas ganham outra dimensão quando compreendemos o porquê daquele resultado, compreendendo o real impacto da atividade e seus problemas, e coletando dados não “visíveis” num relatório mensal.
O “passeio de um líder” através do “genba” deve exibir interesse pela atividade, pelos pontos fortes e fracos do processo, pelos resultados e questionando o supervisor ou operador da área; essa postura demonstra o respeito da organização pelo trabalho realizado, estimula a troca de idéias experiências e a discussão dos problemas – enquanto eles acontecem: é muito diferente um supervisor ouvir uma reclamação sobre a dificuldade em executar uma tarefa OU o supervisor presenciar as dificuldades associadas à execução daquela tarefa. Quantas empresas têm “quadros de desempenho” na parede que ninguém efetivamente controla? O “passeio” que analisa e discute essas informações postadas no quadro demonstra o quanto o trabalho que está sendo realizado naquele setor é importante para a empresa, sendo reconhecido em todos os níveis da organização.

O “genba walk” é também uma poderosa ferramenta de comunicação horizontal e vertical na organização.
Taiichi Ohno“Análise de dados é muito importante na indústria, mas eu coloco maior ênfase nos fatos.”

Para que o “genba walk” seja bem sucedido, é fundamental que a “visita” seja sistematizada. As etapas sugeridas são:
1.     Selecione um tema para cada “passeio”.
2.     Questione os supervisores.
3.     Ouça atentamente, é um exercício e um aprendizado para o líder.
4.     Compartilhe o que você já aprendeu enquanto caminha pela empresa.
5.     Escreva um pequeno resumo do que foi aprendido e poste para que todos tenham acesso (use um formulário padrão se quiser)
6.     De seguimento as melhorias propostas, acompanhe o
progresso.
Como implantar a Mentalidade Enxuta?
(adaptado de Jim Womack, tradução de Christopher Thompson), texto original no http://www.lean.org.br

“Comece analisando o trabalho a ser feito”, defina o que é valor, o que é trabalho incidental e o que é desperdício.

  • Trabalho que agrega valor. Atividades que são parte essencial do serviço prestado: aplicar injeção, consulta médica, prescrição médica, preparar medicamento. Do ponto de vista do cliente, agregar valor é o motivo de sua visita ao serviço, todo cliente estará atrás de algum serviço “final”: consulta médica, sessão de quimioterapia, avaliação de dor, exame etc.
  • Trabalho incidental. São atividades necessárias (pelo menos por enquanto), mas que não interessam ao cliente: descarte do lixo hospitalar (após o cliente tomar sua aplicação); preenchimento de guia e cobrança; manutenção preventiva do ar condicionado da capela ou do telefone da recepção... nenhum cliente pagaria a mais pelo  preparo dentro da cabine de fluxo laminar (já que é uma exigência legal, e manter ela em funcionamento é requisito para o serviço).
  • Desperdício. Atividades que não criam nenhum valor e podem ser eliminadas completamente. Retrabalho é o maior exemplo: preenchimento errado de guia, movimentação para autorização de guia, por exemplo: cliente vem ao serviço, retira guia, vai ao convenio, autoriza guia, retorna ao serviço para realização – e afinal – sua visita que poderia ser uma só, virou um ir e vir cansativo.

Como eliminar as etapas desnecessárias?

Simples, padronizando o ambiente de trabalho e as tarefas (e os processos). Dessa forma, o trabalho poderá ser de fato “trabalho criativo”, e não apenas uma repetição de erros e controle sobre os produtos (ou serviços) defeituosos (que deram errado).

Como?

Quantas vezes guias são preenchidas erradas por falta de padronização ou pacientes voltam ao serviço porque a receita ou o pedido do exame estava incompleto? Essas atividades devem “ser bem feitas da primeira vez” mas, como uma guia TISS tem mais de 50 campos a preencher, é muito “fácil” esquecer um ou outro...

O que acontece é que passamos muito tempo corrigindo erros que – podem não ter gravidade alguma – mas tomam tempo precioso que poderia ser dedicado ao paciente, criando mais valor e satisfação para o cliente e para nós.

Padronizar o trabalho na verdade, é a única forma de alcançar “a melhoria contínua dos processos”, pois só assim poderemos gastar energia melhorando processos confiáveis, e não corrigindo, monitorando ou controlando, e pior, retrabalhando processos que continuamente terminam em erro.

Por isso é que na base do Pensamento Enxuto (Sistema Toyota de Produção), está o trabalho padronizado, como na figura abaixo.


Hospital Municipal em São José dos Campos tem fila de três horas

“Hospital Municipal tem fila de três Horas” O Vale, Sábado, 21 de agosto de 2010

Notícias ruins envolvendo serviços de saúde é a rotina. Filas enormes, erros freqüentes colocando em risco a vida de milhares de pessoas que buscam soluções para problemas e que, com freqüência, encontram mais problemas. Nos EUA, das 110 milhões de prescrições de antibióticos por ano, quase a metade é considerada desnecessária; 2 milhões de pacientes adquirem “infecções hospitalares”, levando a quase 100 mil mortes aproximadamente outros 100 mil morrem em eventos associados a “erro médico”. Mais de 30% do que é gasto com saúde que é apenas desperdício poderia ser eliminado ou evitado. Números assustadores e impressionantes que, se compararmos com nossa infra-estrutura assistencial, seriam ainda mais alarmantes no Brasil.

Uma revolução silenciosa vem ganhando espaço nas instituições de saúde no mundo e com resultados impressionantes, mas ainda pouco conhecida no Brasil: a Mentalidade Enxuta. Usando princípios do modelo de produção adotado pela Toyota há décadas, a Mentalidade Enxuta (Lean) foca essencialmente no cliente, como criar valor e produzir os resultados esperados pelo cliente. O que quer um cliente que chega ao pronto socorro? Certamente alívio rápido do seu sofrimento, seja ele qual for. E como melhorar esse acesso? A Mentalidade Enxuta envolve uma mudança de paradigma para um novo “estado mental”, e essa nova mentalidade é de fato revolucionária na forma com que prestamos assistência.

Sobrecarga de trabalho, excesso de responsabilidades e insatisfação são a rotina nos serviços de saúde, e não poderia ser diferente no Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Regional do Vale do Paraíba, responsável pelo tratamento quimioterápico de boa parte dos pacientes com câncer na região (que realiza hoje, mais de 1.000 procedimentos de alta complexidade/mês), o serviço vem utilizando técnicas de gestão enxuta há 2 anos com resultados impressionantes; sendo o mais relevante deles o aumento em 60% da capacidade de atendimento entre 2007 e 2010, aumentando a qualidade do serviço ofertado (Certificado com Excelência pela ONA em 2009), reduzindo a sobrecarga de trabalho sobre os colaboradores e eliminando boa parte do desperdício; investindo apenas na melhoria dos processos de atendimento através da “mentalidade enxuta”, focados no cliente.

Infelizmente pouca informação e muito preconceito retardam a disseminação da Mentalidade Enxuta nos sistemas de saúde do Brasil; mas países como Canadá e Reino Unido, onde a assistência é predominantemente pública, ela vem sendo aplicada com tremendo sucesso, ampliando o volume e a qualidade dos serviços dentro dos recursos disponíveis. Numa implantação Lean, o primeiro setor atacado é sempre o pronto-socorro, o “gargalo” de todo hospital; lá as mudanças são rapidamente revertidas em benefícios: menos filas; menos risco; menos desperdício; mais satisfação e valor para todos, clientes (pacientes) e profissionais.

Há sim uma forma de “enxugar a fila” no Hospital Municipal, e resolver inúmeros outros problemas nos sistemas de saúde; mas a solução “Lean” não começa por aumentar no número de profissionais disponíveis para atendimento; começa olhando através dos olhos do cliente, como uma nova forma de encontrar soluções para os mesmos problemas.