quinta-feira, 22 de julho de 2010

FDA considera que uso de bevacizumab não é "clinicamente relevante" no câncer de mama her-2 negativo

Não fui defensor do uso de bevacizumab em primeira linha para câncer de mama associado a quimioterapia, nunca me convenci de que os estudos eram de fato positivos.

Agora, o FDA também acha que não!!!

Segundo Report do OCDE (Oncology Drug Advisory Meeting), a adição de bevacizumab à quimioterapia de primeira linha em câncer de mama her-2 negativo é "tratamento fútil" ou, dito formalmente: “não é clinicamente relevante” (veja abaixo).

Estudos defendidos ardentemente pela industria normalmente acabam mal. O E2100 (mama) e o E3200 (cólon) sempre exalaram um certo “desconforto técnico”, e são tratados como "pilares" de ciência.

Há dois dias o FDA se posicionou com o caso do câncer de mama... no caso do câncer de cólon, o Optimox (publicado no JCO em 2009) alcançou resultado de sobrevida global igual (ou melhor) do que o E3200, mas ninguém se importou até agora, apesar da "fragilidade técnica” do E3200 (muito ruim, assim como o E2100), em breve teremos mais "más" notícias. Sim, infelizmente más, pois seria bom melhorar consistentemente os resultados no tratamento de nossos pacientes, com ganhos reais de sobrevida e qualidade de vida...

Uma abordagem muito invasiva e apressada da indústria é sintoma de que algo vai mal, ou de que vai durar pouco.... (Em junho passado passamos por isso com a "inesperada" queda de preço do imatinib após publicação de estudo com dasatinib no NEJM).

Dito e feito....

Reprodução do sumário do Report do OCDE do FDA, págs 25 e 26 (meus grifos) :

IV. SUMMARY
The addition of bevacizumab to docetaxel (AVADO study) and to taxane/anthracyclinebased chemotherapy or to capecitabine (RIBBON1 study) met the pre-specific primary endpoint, with a statistically significant improvement in PFS, however the magnitude of the PFS improvement is not clinically meaningful. The combination of bevacizumab to chemotherapy resulted in an overall increased in serious adverse events, grade 3-5 adverse events, and adverse events related to bevacizumab in both studies. Overall survival data showed hazard ratios favoring the placebo arms for AVADO study and RIBBON1 (taxane/anthracycline cohort), indicating an inferior outcome with the addition of bevacizumab to these chemotherapies.
AVADO and RIBBON 1 are well-conducted, double-blinded trials, with less missing data compared to E2100. The improvement in PFS observed in these two studies, as measured by the hazard ratio and as more commonly expressed by clinicians as the difference in median PFS between the treatment arms, failed to confirm the magnitude of PFS improvement observed in the E2100 trial, the basis for the accelerated approval. The magnitude of treatment effect is clinically important because it is really a measure of delaying symptoms from tumor progression, which has to be weighed against drug toxicity that is present for the duration of treatment
The risk-benefit ratio of bevacizumab when added to the standard the chemotherapeutic regimens serving as standard of care in the AVADO and RIBBON1 studies may not be considered favorable. FDA seeks the Committee’s advice on whether clinical benefit has been demonstrated in these applications.

Traduzindo apenas o negrito de forma simplificada:
(...)
A Sobrevida Global favorece os braços com placebo nos estudos AVADO e RIBBON1, indicando um resultado inferior de sobrevida quando adicionado bevacizumab à quimioterapia tradicional.
(...)
A taxa de risco-beneficio para o bevacizumab quando associado a quimioterapia standard como nos estudos AVADO e RIBBON1 não pode ser considerada favorável.

No Relatório de 20/07/2010, o FDA reforça a “fragilidade técnica” do E2100, estudo que garantiu o “Fast Track” (processo de aprovação rápida) para o bevacizumab em mama :

(tradução do trecho do relatório à página 8)
“O time revisor não tem segurança nos resultados de sobrevida livre de progressão porque os exames radiológicos de controle ao início do tratamento estavam “perdidos” em 10% dos pacientes e 34% deles não foram seguidos até um evento de progressão revisado independentemente ou seguidos até o final do estudo. Em adição, houve uma alta taxa de discordância (50%) entre o que o investigador considerou evento de progressão (PFS event) e o que os revisores independentes consideraram evento de progressão.

34% não revisados independentemente para PFS
e ainda
50% de discordância entre investigador e
revisor independente ???
...

Em tempo,
leiam também matéria da Folha de São Paulo de hoje
(22/07/2010), parece que é sobre o mesmo assunto: 


Link dos Slides do Relatório do OCDE-FDA:
Slides do Relatório OCED-FDA em PDF 

Link do Relatório:
Relatório OCD-FDA em PDF

sábado, 17 de julho de 2010

Você é psicologicamente inerte?

A inércia psicológica é o que inibe sua criatividade e seu pensamento inovador. Um artigo recente na revista Quality Progress me lembrou desse conceito. Artigo interessante escrito por Aditya Bhalla levantou pontos interessantes sobre inovação, mas a “INÉRCIA PSICOLÓGICA” foi o que atraiu a atenção, pela brilhante lista de exemplos ele publicou, reproduzida abaixo:

TIPOS DE INÉRCIA PSICOLÓGICA

1. Inércia associada a uma função usual de um objeto (um mouse de computador só pode ser usado para movimentar o cursor em uma tela).
2. Inércia terminológica pelo uso de um jargão técnico ( redução do “inventário sintético” de bancos corporativos).
3. Inércia causada por formas de aparência (cientistas devem usar jaleco branco).
4. Inércia causada por condições, propriedades ou parâmetros usuais (equipes sempre têm de ter um líder).
5. Inércia causada por princípios usuais em área de atuação ou conhecimento (a aplicação de novos conceitos lean para gerenciar uma equipe ou software).
6. Inércia causada por componentes ou composições usuais (uma operação com entrada de dados deve ter obrigatoriamente especializada em gerenciamento de dados dentro da operação).
7. Inércia causada por um objeto ou caracter constante (ligações para um call-center sempre deve ser atendida por alguém menos especializado, e progressivamente aumentar a especialização do atendente).
8. Inércia causada pela dimensão usual (num call-center não pode haver mais de um representante falando com o cliente).
9. Inércia causada por uma proibição não existente (você não pode tentar uma venda extra com um cliente irritado).
10. Inércia causada por uma ação habitual (a garantia de um serviço ao cliente não pode ser dividida entre vários prestadores).
11. Inércia causada por uma solução única (a tendência a parar de explorar outra solução quando a primeira for encontrada).
12. Inércia causada por um único modelo (pensamento em silo na melhoria de processos).
13. Inércia causada por um valor ou importância usual atribuída a um objeto (softwares devem ser testados extensamente por uma equipe independente antes de serem lançados).
14. Inércia causada por uma condição tradicional de um aplicativo (videogames são apenas brinquedos, não podem ser usados como ferramentas de desenvolvimento).
15. Inércia causada pela pseudo-solução similar já conhecida, ou pela tendência a aplicar uma solução similar que funcionou no passado (estrutura de recompensa).
16. Inércia causada por informação superficial (tendência a fornecer ou buscar informações não relacionadas ao problema principal).


Como listado por: Aditya Bhalla, na Quality Progress Magazine, Junho de 2010.

Outras fontes: http://www.triz-journal.com/archives/1998/08/c/index.htm

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tratar gastrite com anti-inflamatórios previne câncer de estômago?

Tratar gastrite com anti-inflamatórios previne câncer de estômago?

Estudo recente no JCO conclui que em pacientes com úlcera gástrica H pylori positiva, o uso de anti-inflamatórios não esteróides (AINES) reduz o risco de câncer de estômago. Isso mesmo!!! Um papel protetor contra câncer de estomago foi identificado em pacientes usando AINES com freqüência e úlcera péptica H pylori positiva, conflitante?
Talvez...
Nós sabemos que os AINES tem efeito protetivo no processo de carcinogênese do câncer de estomago e cólon, mas até então seu uso como fator “preventivo” não havia sido descrito. Rotineiramente essas drogas são “proibidas” para pacientes com doença péptica... bem agora temos um estudo dizendo que isso protege contra câncer...
As evidências de que o processo inflamatório é fundamental no processo de carcinogênese é crescente.
O estudo incluiu mais de 52 mil pacientes em 2 coortes para consumidores freqüentes e não usuários de NSAIDs. Os que nunca tomavam NSAIDs tiveram um risco 50% maior de desenvolver câncer do estômago: “Em análise multivariada, o uso regular de NSAIDs foi fator preditivo independente para redução do risco de desenvolver câncer de estômago em pacientes H pylori positivos.”

E então o que fazer? Tomar anti-inflamatório quando tiver gastrite?
Ainda não... mas pergunte ao seu médico sobre o tratamento do H pylori e os riscos associados ao câncer de estômago.

O link para o artigo é : http://ht.ly/2crZd

Detalhes da referência:
Effective Reduction of Gastric Cancer Risk With Regular Use of Nonsteroidal Anti-Inflammatory Drugs in Helicobacter Pylori–Infected Patients
Chun-Ying Wu, Ming-Shiang Wu, Ken N. Kuo, Chang-Bi Wang, Yi-Ju Chen, Jaw-Town Lin
Journal of Clinical Oncology, Vol 28, No 18 (June 20), 2010: pp. 2952-2957